O COVID-19 e as Emoções

Dr. Rafael Sebben, Psico-oncologista da CLÍNICA NEOPLASIAS LITORAL

Como lidar com a questão quando se está em tratamento oncológico?

Diante de uma pandemia como a do Sars-CoV-2, outras doenças saem um pouco dos holofotes da imprensa, e o pior: dependendo de como o sistema de saúde se organiza, a sobrecarga de pacientes infectados faz com que os profissionais não consigam atender adequadamente vítimas de outros problemas. E, entre eles, há uma preocupação especial com o câncer.

Os números assustam. De 50 a 90 mil brasileiros podem ter deixado de fazer a biópsia, um exame necessário para confirmar o câncer, nos dois primeiros meses da pandemia de coronavírus no nosso país. As estimativas são das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica.

E para quem já está em tratamento para o câncer, o recomendado é seguir com as consultas médicas, rotina de exames e também com um acompanhamento psicológico.

“A psico-oncologia visa assistir o paciente na sua totalidade, ou seja, envolvendo uma análise de fatores físicos, psíquicos, sociais, financeiros e espirituais. Uma análise da dor total desse sujeito. Às vezes ele até está bem fisicamente, mas está com uma dor social, por exemplo, não podendo trabalhar, não podendo se encontrar com as pessoas do trabalho, tendo uma dor financeira, entre outras dores que podem surgir ao longo desse processo. Então, assistir na totalidade é uma das nossas intenções para que o paciente seja acolhido da melhor maneira possível”, informa o psico-oncologista da Clínica Neoplasias Litoral de Itajaí, Rafael Sebben.

Centro Medico São Camilo faz parte da clínica Neoplasias

E agora neste período de pandemia, o acompanhamento psico-oncológico desses pacientes torna-se ainda mais fundamental. Como não há vacina ou medicação para tratar o coronavírus, até o momento, a única medida eficiente para frear o contágio é o isolamento social. O Psico-oncologista Rafael Sebben, da Clínica Neoplasias Litoral de Itajaí prefere tratar o termo “isolamento social” como “distanciamento social”, pois mesmo que estejamos distantes uns dos outros, não precisamos estar isolados, porque o isolamento social, no real sentido da palavra, pode fazer parte de um processo de psicopatologia, como a depressão, por exemplo.

“É muito importante que as pessoas desenvolvam recursos, para que esse distanciamento social seja o mais saudável possível, para que elas possam manter as atividades regulares; uma rotina e alimentação saudáveis… E aqui na clínica Neoplasias Litoral seguimos realizando os psico-atendimentos aos nossos pacientes, claro, seguindo todas as normas de prevenção ao coronavírus (uso de máscaras, disponibilização de álcool em gel…) e, realizando essas intervenções online, com chamadas de vídeo, quando necessário”, garante o psico-oncologista.

A Psico-Oncologia

O câncer pode trazer diferentes impactos emocionais e sociais para cada paciente. A Psico-Oncologia passou a ser pesquisada e praticada no Brasil na década de 90. É uma área importante de interface entre a psicologia e a oncologia e tem um papel fundamental durante o tratamento do paciente. Diante disso, o psicólogo trata principalmente dos aspectos emocionais dos pacientes com câncer, ouvindo suas angústias, dúvidas, medos e desejos, e ajudando a enfrentar o tratamento. O psicólogo pode realizar diversas intervenções junto ao paciente e seus familiares, como acolhimento e suporte psicológico no enfrentamento dos sentimentos que podem vivenciar durante esse processo, propiciando aumento da qualidade de vida e adequado bem-estar.

O apoio da família

Ter alguém com quem se pode contar nestes momentos é fundamental e o apoio pode vir da família ou dos amigos. Mas, muitas vezes, a doença afeta todo o círculo social do paciente, principalmente a família, que pode não saber como ajudar. Por isso, o acompanhamento psicológico das pessoas mais próximas é um dos recursos que pode contribuir para lidar com o câncer. Lidar com a situação pode ser difícil, tornando-se um aprendizado para a família ao longo do tratamento. O fundamental é oferecer apoio, que pode vir de diversas maneiras.

Confira outras dicas do especialista para manter a saúde mental em dia:

– Sempre procurar por fontes confiáveis de informações. Informações falsas podem causar desconforto, estresse, ansiedade e medo desnecessários.

– É esperado que as pessoas despertem quadros ansiosos frente às adversidades da vida, contudo, é preciso observar como cada um tem lidado com as questões atuais e verificar se este processo tem causado algum sofrimento ou prejuízo na vida da pessoa. Caso sim, é preciso procurar por um profissional para avaliação adequada. Frente à pandemia, fator que também pode causar ansiedade, é importante que o paciente reavalie suas próprias ações neste momento em prol de sua saúde mental. Seguir também todas as indicações de saúde, as orientações médicas preventivas e os cuidados que envolvem o tratamento de saúde diante do câncer são fundamentais neste momento.

– Atividades durante a quarentena: neste momento do confinamento é essencial que nos coloquemos em atividade que nos façam bem e de modo frequente. Ler, ver filmes, conversar via vídeo chamada, trabalhar à distância, estudar, entre outras atividades saudáveis podem ser boas opções para manter a saúde mental.

– Alimentação e sono: como sabemos escolher ter cuidados com estes hábitos faz parte de uma vida saudável, porém, poucos sabem os benefícios destes comportamentos saudáveis no campo da saúde física e emocional. Dormir bem e alimentar-se bem, além de auxiliar na melhora da imunidade, viabiliza benefícios como na memória, na disposição e também em uma rotina mais tranquila, quando a pessoa efetiva escolhas saudáveis.

– Confiar na sua equipe de saúde: é fundamental que haja um relacionamento saudável entre equipe de saúde, pacientes e família. Este é um fator primordial em oncologia. Confiança é uma necessidade efetiva do paciente e família frente aos médicos e equipe multidisciplinar. Neste sentido, é importante que o paciente mantenha contato com a equipe para tirar dúvidas sempre que necessário, dialogando sobre seu tratamento para saber a evolução, as orientações e cuidados que englobam esta realidade, inclusive frente às questões que podem ser aplicáveis diante das demandas da pandemia referente ao Covid-19.

Importante: Não parar o tratamento a não ser que seja recomendação de seu médico. Cada paciente é único e tem necessidades específicas e seguir as orientações da equipe multidisciplinar é imprescindível. Também manter rotina de avaliações médicas na sociedade em geral pode evitar diagnósticos tardios, uma ação importante na prevenção frente aos problemas que envolvem a realidade do câncer.