A IMIGRAÇÃO AÇORIANA NO BRASIL

JORNAL O POVO SC
Dança Açoriana na Marejada em Itajaí
Igrejinha da Barra – Balneário Camboriú

A imigração açoriana para o Brasil, que no mês de abril comemora 274 anos de presença em território nacional, está ligada ao projeto colonial português de efetivar a ocupação das terras no Novo Mundo, enfrentando e impedindo a invasão estrangeira em solo brasileiro.

Memorial aos açorianos em Porto Alegre RS

Um dos motivos que levou Portugal a instituir um efetivo projeto de colonização no Brasil foi a tentativa de invasão de parte de outras nações, que não aceitavam os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, além da consolidação de fronteiras em áreas que também despertavam o interesse dos espanhóis, destacadamente nos arredores da Bacia do Rio da Prata – envolvendo por aqui os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Flagrante de festa açoriana em Içara SC

Os primeiros casais açorianos vieram para o Brasil em 1617, depois de receber apoio lusitano para se estabelecer no território brasileiro, em áreas consideradas estratégicas para a consolidação do projeto colonial português no Brasil. Os açorianos que imigravam para cá buscavam melhores condições de vida, haja vista que nos Açores o pauperismo assolava a sociedade, devido à perda de fertilidade dos solos e, sobretudo, após os eventos sismográficos que aconteceram em 1677. Para os imigrantes, vir para solo brasileiro significaria poder sair da miséria que viviam em sua terra natal. Em 1746, foi ordenada a vinda de casais em grupos de 60, que seriam distribuídos em cada povoado a ser formado. Os colonizadores homens não poderiam ter mais de 40 anos, e as mulheres, não mais de 30.

Ainda hoje a tradição está mantida

Chegando ao Brasil, os imigrantes açorianos ocuparam terras, sobretudo em Porto Alegre – cidade que já foi chamada de Porto dos Casais – em alusão aos casais açorianos que ali desembarcaram, e algumas cidades da região metropolitana como Gravataí, Viamão, Santo Antônio da Patrulha entre outros, e no estado de Santa Catarina (região da orla marítima – Florianópolis, Camboriú, Itajaí, Laguna etc.), formando ao longo do século XVIII importantes colônias nessas cidades. Atualmente, no centro de Porto Alegre, há o “Monumento aos Casais Açorianos”, esculpido por Carlos Gustavo Tenius, em homenagem aos sessenta primeiros casais que desembarcaram na cidade.

Construção de fortalezas na Ilha de Florianópolis

Durante o século XVIII, ainda, a imigração de açorianos ganhou força no Brasil, sendo uma consequência da desestruturação da economia canavieira em Açores e das frustradas tentativas de desenvolver novas atividades agrícolas que pudessem substituir a cana de açúcar. Além das questões econômicas, nesse período outros dois fatores contribuíram para a acentuação do fluxo: as notícias que chegavam aos Açores de melhoria das condições de vida daqueles que imigraram para o Brasil e as tentativas de reunir os membros da família em terras brasileiras. As motivações econômicas, contudo, ainda era a razão principal para o fluxo.

Açorianos chegaram na região no início dos anos 1900

EXPORTAÇÃO DE MULHERES PARA O BRASIL

No século XIX, a migração de açorianos para o Brasil adquiriu uma nova faceta: o tráfico de mulheres dos Açores que chegavam ao país, sobretudo no Rio de Janeiro, onde eram forçadas a trabalhar em prostíbulos. Ramalho Ortigão, no décimo volume de “Farpas” afirma que “os Açores são a parte do país que exporta maior número de mulheres. Essas mulheres são escrituradas ao chegarem ao Rio de Janeiro, muitas delas ainda a bordo mesmo dos navios que as transportam”.

DIMINUIÇÃO DAS COTAS DE IMIGRAÇÃO

Nos primeiros anos do século XX, o fluxo de açorianos ainda era perceptível no Brasil. Entretanto, a partir de 1930 a imigração entrou em declínio, graças à lei estabelecida pelo então presidente Getúlio Vargas que estabelecia cotas de imigração para o Brasil, contendo assim a vinda de pessoas de outras nações, inclusive dos Açores.

Cristóvão de Aguiar afirma que uma das maiores influências açorianas no Brasil é linguística, ocorrendo uma grande troca entre a língua portuguesa falado no Brasil e a de Açores, destacadamente na região de Porto Alegre e região litorânea de Santa Catarina, principais áreas de ocupação dos imigrantes açorianos, conforme já abordado. Houve uma influência linguística bem mais ampla do açoriano no brasileiro, que o inverso. Isso porque, dificilmente um migrante dos Açores que se estabeleceu no Brasil retornou para seu território de origem.

Imagem de construções açorianas em São Francisco do Sul SC

MUSEU ETNOGRÁFICO CASA DOS AÇORES EM BIGUAÇU

Nas últimas quatro décadas, o espaço localizado na histórica Casa dos Açores, construída no século XIX, foi responsável pela preservação da memória e cultura dos luso-açorianos que colonizaram o litoral catarinense. Distante cerca de 20 quilômetros do centro de Florianópolis, a Casa é administrada pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). O imóvel foi adquirido pelo Governo do Estado de Santa Catarina em 1978, e passou por restauração para se transformar em museu, inaugurado no dia 4 de março de 1979. A edificação tombada forma, junto com a Igreja de São Miguel Arcanjo, a chácara e os arcos do antigo aqueduto, um belo conjunto arquitetônico.

Museu Etnográfico a 20 km de Florianópolis

Atualmente, o público encontra exposições que fazem um resgate dos costumes do povo açoriano que veio para Santa Catarina, com objetos em cerâmica; mobiliário antigo; os engenhos – maquetes de engenhos de cana-de-açúcar, farinha e serraria; a Casa do Pescador – com material usado na atividade econômica típica dos colonizadores; além da exposição Grupo Arcos Pró-Resgate da Memória Histórica, Artística e Cultural de Biguaçu, com acervo de trajes folclóricos originais da Ilha dos Açores e litoral catarinense, material bibliográfico, artesanato de referência cultural, instrumentos musicais, pau-de-fita, entre outros objetos.

O Museu recebe, ainda, grupos escolares e de idosos previamente agendados para sua Matinê. Na ocasião, o público assiste à exibição de filmes catarinenses que fazem parte do acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS/SC) e foram cedidos especialmente para o projeto. Para marcar hora, basta entrar em contato com o Museu pelo telefone (48) 3665-6195. Quem quiser passar um dia em meio à natureza também pode procurar pelo museu, que conta com um pomar e churrasqueiras abertos à comunidade.

Igreja Matriz de Itajaí – construção iniciada por açorianos

LEGENDA: