O Brasil vive hoje (talvez) o período mais difícil de toda sua história. Além da coronavírus, que já matou mais de 94 mil brasileiros por conta da negligência do governo federal no combate à pandemia, o nosso país, com mais de 11 milhões de desempregados e sem nenhuma perspectiva de médio prazo, voltou para o mapa da fome, de onde havia sido retirado pelo governo Lula entre os anos de 2003/2010.
Ao mesmo tempo vai perdendo a floresta amazônica, destruída de forma
acelerada, e o que é pior, com o incentivo do governo, e com ela os
investimentos, notadamente os estrangeiros, com graves prejuízos
para a nossa economia. Despreparado para o cargo e preocupado
apenas com a questão ideológica (e com a reeleição em 2022),
assombrado com o velho comunismo junto com militares anacrônicos
que integram seu governo, o presidente Jair Bolsonaro se mantém no
poder sustentado pelas fake news que o elegeram e escravizaram parte
da população, iludindo-a com mentiras diárias nas redes sociais. E para
completar o quadro, ainda ressuscitou o velho Serviço Nacional de
Informações (SNI), criado na ditadura para monitorar seus opositores
no serviço público, apesar do ministro afirmar o contrário.
Afora pequenas divergências, graças à democracia ainda vigente,
os três poderes parecem estar afinados na tarefa de destruir as
conquistas duramente alcançadas ao longo dos últimos vinte anos.
Depois da derrubada de Dilma no golpe de 2016, com a cumplicidade
do Judiciário, o Brasil mergulhou num retrocesso que se iniciou com a
extinção da CLT, prosseguiu com a reforma da Previdência e tem
sequência com a destruição das leis ambientais, até então consideradas
as mais avançadas do mundo. Cooptado pelo capitão, ao custo de
cargos e verbas, o Congresso (especialmente o Centrão) garante a
aprovação de quase tudo o que o governo manda – algumas poucas
vezes se rebelando e alterando certos dispositivos dos projetos
enviados. No geral, porém, faz o que Bolsonaro quer. Mais de 30
pedidos de impeachment do Presidente já deram entrada na Câmara,
mas o seu presidente, deputado Rodrigo Maia (DEM), se recusa a
apreciá-los, preferindo engavetá-los sob os mais diferentes e cínicos pretextos. Talvez porque deseje reeleger-se para mais um mandato na presidência da Casa.
Na verdade, o impeachment não mudará em nada a situação
caótica do país, pois a saída de Bolsonaro implicaria na assunção do
general Hamilton Mourão, que só é diferente do capitão na patente. Ele
defende a política ambiental desastrosa do governo e enrola toda vez
em que, como presidente do Conselho da Amazônia, é questionado
sobre a devastação da floresta. Fala, fala e não diz absolutamente nada
e nem toma qualquer providência para conter o desmatamento. E mais
recentemente defendeu a reeleição de Bolsonaro, afirmando, inclusive,
que o capitão chegará em 2022, “extremamente competitivo”. Pelo
visto o general também já se convenceu das próprias mentiras do
governo, propagadas pela indústria oficial de fake news e, a exemplo
dos bolsonaristas, passou a acreditar que o capitão se reelegerá no
próximo pleito. Para observadores, nem Jair Bolsonaro aqui e nem
Donald Trump nos Estados Unidos conseguirão reeleger-se, pois
cometeram os mesmos erros no comando de suas nações. E continuam
cometendo. Eles foram eleitos e sobrevivem graças às fake news que,
no entanto, começam perder força.
Constata-se que o comportamento de Rodrigo Maia em relação ao
governo é idêntico ao adotado pelo Supremo Tribunal Federal, cujo
presidente, o ministro Dias Toffoli, às vezes funciona até como
conselheiro do presidente Bolsonaro. Toffoli, que foi acusado de ser
petista quando assumiu a cadeira na Corte Suprema, agora como seu
presidente acabou mostrando as penas tucanas que carrega
escondidas sob a toga: ao mesmo tempo em que tomava decisões
prejudiciais ao ex-presidente Lula, que o nomeou para o STF,
beneficiava tucanos emplumados como José Serra e Aécio Neves (hoje
questionados duramente pela justiça). Tófolli determinou a suspensão
das investigações sobre Serra e Aécio, acusados de receberem
propinas, inclusive proibindo que o material suspeito já apreendido em
operações de busca e apreensão fosse examinado. Aliás, ele nem
precisava expor-se tanto, pois o relator “sorteado” para os inquéritos
no Supremo, envolvendo os dois tucanos, foi o ministro Gilmar
Mendes, nomeado por Fernando Henrique e cujas penas estão e
sempre estiveram inteiramente à mostra.
E por falar em Gilmar, o polêmico ministro decidiu adiar, mais
uma vez, o julgamento da ação que pede a suspeição do ex-juiz Sergio
Moro, que vem sendo procrastinado há bastante tempo porque a sua
aprovação implicará na anulação da condenação de Lula. Por conta da
pandemia, os julgamentos no STF em sido virtuais, mas Gilmar quer,
agora, que o julgamento da suspeição do ex-ministro da Justiça seja presencial. Foi o melhor pretexto que ele arranjou para, mais uma vez
adiá-lo, embora o processo já estivesse em pauta muito antes do
aparecimento da Covid-19. Vale lembrar que o ministro Gilmar Mendes
é o mesmo que tem livrado a cara de tucanos na Corte Suprema e que,
em contrapartida, atropelando a Constituição em 2016, impediu Lula
de assumir a chefia da Casa Civil no governo Dilma.
Enquanto isso, a antes toda poderosa Lava-Jato vai derretendo e
poderá, inclusive, ser alvo de uma CPI da Câmara dos Deputados,
proposta pelo deputado Paulo Pimenta para investigar seus abusos,
especialmente a sua “caixa preta”. O próprio Procurador Geral da
República, Augusto Aras, declarou em recente entrevista que é preciso
abrir a caixa de segredos daquela operação. Aras, aliás, teve de
recorrer ao Supremo Tribunal Federal para que fosse obedecido pelos
seus subordinados da Lava-Jato, que se recusavam a compartilhar com
ele as suas investigações. Como durante algum tempo os lavajateiros
foram os homens mais poderosos do país, criando um poder paralelo –
a chamada República de Curitiba – que atropelava a Constituição e
afrontava até o Supremo, Dallagnol e companhia achavam que ainda
estavam com essa bola toda e, por isso, afrontaram o PGR. Até o ex-
chefão da operação, o ex-juiz Sergio Moro, que se promoveu à frente
daquela força-tarefa, resolveu criticar Aras, agindo, evidentemente, em
defesa própria, pois ele próprio sabe o que fez “no verão passado”.
E por falar em Moro, ele está preocupado, também, com a
possibilidade do Congresso Nacional aprovar um projeto de lei
estabelecendo uma quarentena de oito anos para que ex-magistrados e
membros do Ministério Público possam concorrer a cargos eletivos.
Esse prazo foi defendido por Dias Toffoli e Rodrigo Maia, presidentes,
respectivamente, do Supremo e da Câmara dos Deputados, mas as
associações de classe dos magistrados protestaram, considerando-o
desproporcional. Maia informou que já existe um projeto tramitando
no Congresso e que a tendência é que seja aprovado, o que poderá
frustrar o sonho de Moro de concorrer à Presidência da República. A
TV Globo, no entanto, que abraçou a candidatura do ex-juiz, já iniciou
uma ofensiva contra o PGR Augusto Aras e, também, contra a proposta
de quarentena para magistrados que, uma vez aprovada, obviamente
prejudicará o seu candidato. Enquanto isso o Brasil navega à deriva,
em águas turvas e destino incerto, indo a reboque e sob as ordens dos
Estados Unidos. Diante disso, só nos resta rogar que Deus tenha
misericórdia de nossa Nação.











