Em tempos não tão distantes, a política era diferente, mas os políticos não eram muito diferentes dos de hoje. Lembro-me perfeitamente como eram as campanhas na minha cidade lá no interior do Estado. Durante seus mandatos quem vencia uma eleição jogava pesado, e durante as campanhas faziam até o que não deviam pra conquistar o voto do eleitor. Pegavam criancinhas no colo, abraçavam velhinhos, tomavam café na canequinha de alumínio etc. Mas, havia uma vantagem que hoje não tem, eles faziam tudo com dinheiro recolhido por eles próprios. Tinha alguns que tomavam especialmente dos bicheiros e até das prostitutas e chofer de táxi. Pequenos e grandes empresários também contribuíam. Naqueles tempos também havia chantagem, também havia o tal de toma lá dá cá, com a promessa de favores a quem doasse mais. Mas nada que se compare ao que existe hoje. Cada partido e cada candidato cuidavam de suas próprias arrecadações, sem botar a mão no bolso dos eleitores. E o interessante nisso tudo é que mesmo sem verbas públicas, nunca faltou dinheiro para uma eleição.
Mas o tempo mudou, não é mais o mesmo, já não se fazem campanhas como as de outrora, com grandes comícios em cima de caminhões, em ladeiras, praças e logradouros. Depois do tal de “horário gratuito de Rádio e TV”, hoje inventaram o tal financiamento público de campanha, através do qual os eleitores têm obrigatoriamente de contribuir para a eleição de candidatos dos quais não gosta, dos quais nem conhecem, e de partidos que desprezam. E olha que é uma montanha de dinheiro. Pra se ter uma ideia, agora em 2020 para as eleições municipais a verba eleitoral estipulada deve atingir os R$ 3,7 bilhões. Eu disse (três bilhões e setecentos milhões de reais), enquanto falta dinheiro pra tudo no País. Falta dinheiro pra comprar medicamentos, para as vacinas (tão importantes para nossas
crianças), falta dinheiro para as obras de saneamento, para a educação, a segurança, a limpeza pública, mas não faltará dinheiro pra dar uma boa vida aos candidatos, para que façam suas campanhas sem terem que fazer muita força.
E, como dizia Paulo Gracindo (o Odorico Paraguaçu da novela O Bem Amado), “forasmente” a gente ter que sustentar os barrigudinhos, agora há outro problema que virou um verdadeiro negócio da China: “a criação de novos partidos”, porque ao serem criados eles participam da divisão dos bilhões destinados às campanhas e sabe-se lá se aplicam tudo para divulgar os seus. E nós ficamos como verdadeiros babacas, apenas vendo essa gente nos olhar com desprezo, sem podermos fazer nada para acabar com essa farra.

Radialista e Jornalista Profissional desde 1979 – Registro no MTF/PR Nº 0888 – Foi diretor de imprensa em prefeituras no Paraná e Santa Catarina. Atualmente aborda assuntos com foco no contexto do cenário político brasileiro e mundial. Como colunista de O Povo, traz análises e notícias exclusivas dos bastidores de temas diversos e relevantes para os catarinenses.
E-mail: pimentel.ddc@gmail.com