A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

Jornal o Povo
Presidente deixa de lado seus momentos de paz e amor

Bastou subir nas pesquisas que Jair Bolsonaro voltou a tagarelar. E, não se contentando com coisa pouca, partiu para ofender um jornalista que quis saber por que o casal Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de sua terceira esposa, Michelle Bolsonaro.

Bolsonaro disse que o coronavírus é mais perigoso para os bundões (no caso os jornalistas), ofendendo parentes e amigos de 120 mil mortos pelo Covid. Mas a crise anunciada é muito pior do que sua renúncia à boa educação, e tem duas vertentes: uma é a que o levou a falar sobre as dúvidas despertadas pelas ações de Queiroz, do advogado Wassef – que segundo se informa, pagou mais de R$ 10 mil ao urologista de Queiroz que o representava e a seu filho Flávio; e outra a fritura de Paulo Guedes, mais uma vez deixado de lado. Alias, a crise Paulo Guedes (veja mais abaixo) talvez seja só fumaça: ele já mostrou mais de uma vez que está disposto a engolir muito sapo desde que fique no cargo – e, se sair, o máximo que terá de solidariedade serão frases do tipo “coitado, ele não tem culpa nenhuma! Ele não fez nada! Ele até que se esforçou!” Mas a outra crise, pela reação que causou no presidente, tem potencial para machucá-lo.

LEMBREMOS: Quando foram descobertos os primeiros depósitos de Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro, o presidente deu a desculpa dizendo que eles eram a devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que ele havia feito ao amigo. Não há registro de depósito de Bolsonaro na conta de Queiroz. O que há são as suspeitas de rachadinha sobre Flávio, e há também os inquéritos do STF sobre notícias falsas que passam pelo Gabinete do Ódio no Planalto, pertinho do gabinete presidencial. Mas há mais. Com Ana Cristina (sua primeira
esposa), Bolsonaro teve boa evolução patrimonial. O casal comprou 14 apartamentos, terrenos e casas, cinco delas em dinheiro vivo, o que é legal, mas incomum. Um lote, comprado por R$ 160 mil, foi vendido por ela cinco anos depois, por pouco menos de R$ 2 milhões – na época, já estava separada. O argumento de que o Governo petista roubou muito mais não tem valor: ilegalidade não tem piso a partir do qual passa a ser punível. Claro, sempre é possível que tudo seja explicado, mas ameaçar encher de “porrada” a boca do repórter que lhe fez a pergunta nada explica. E pior é que nas redes sociais os bolsomínios (ingênuos ou não) acham que o presidente é quem está certo.

Como alertei acima, o ministro Paulo Guedes deveria ter apresentado na terça-feira (25) o que chamou de Big Bang, seu projeto de retomada econômica pós-pandemia que envolveria o Renda Brasil – uma espécie de Bolsa Família melhorada e ampliada. Mas não apresentou: Bolsonaro não gostou do Renda Brasil, achou R$ 247,00 pouco – embora bem mais do que a média de R$ 191,00 do Bolsa Família – e pediu a reformulação do projeto, para torná-lo mais compreensível e simples.

Ministro não compareceu para o anúncio

Em compensação, houve a triunfal apresentação do programa Casa Verde e Amarela, pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (que substitui o Minha casa Minha Vida de Lula), que prevê a construção de 350 mil habitações populares até 2024, junto a um plano de regularização de terrenos, reforma de moradias em mau estado, financiamento para ampliação de residências, tudo com juros mais baixos do que os do Minha Casa, Minha Vida e com estímulos específicos para Norte e Nordeste – reduto petista de votos. Os juros dos empréstimos ainda não foram definidos. O (Im) posto Ipiranga Paulo Guedes, ministro da Economia, que segundo Bolsonaro seria o dono do pedaço, não deu as caras. Disse que tinha outras reuniões mais importantes a fazer. Não seria surpresa alguma para este colunista se um badalado ministro deixasse seu posto, inesperadamente, e ganhasse um bom cargo em Brasília ou no Exterior.

EM NOME DA HISTÓRIA

O meia Leon Goretzka e o lateral Joshua Kimmich, titulares do Bayern de Munique e vencedores da Champions League 2020, doaram US$ 80 mil ao Museu de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, explicam os atletas, fazem parte da história da Alemanha e da Polônia. “Todos temos o desafio de garantir que um dos capítulos mais sombrios da história humana não se repita. É importante para nós ajudar a garantir que a cultura da lembrança permaneça, mesmo na pandemia”. Ambos criaram a WeKick Corona (Nós Chutamos o Corona), para ajudar a combater o coronavírus. Uma bela atitude, compatível com a bela história do Bayern de Munique, que reagiu ao nazismo. Seu presidente, Kurt Landauer, e o técnico, Richard Kohn, eram judeus; caçados, exilaram-se na Suíça. O clube declarou que Landauer continuava presidente e que, embora seguindo as leis impostas pelo nazismo, discordava da ideologia.

REMEMBER: Num amistoso do Bayern na Suíça, Landauer estava na arquibancada quando o time inteiro foi até lá para aplaudi-lo e só parou quando agentes nazistas os ameaçaram. O atleta olímpico Wilhelm Simetsreiter fez questão de tirar uma foto ao lado de Jesse Owens, o negro que ousou derrotar os favoritos alemães. Os nazistas decidiram apreender os troféus de prata do Bayern. O capitão do time, Conrad Heidkamp, os escondeu e salvou. Após a guerra, Landauer voltou à Alemanha, foi eleito presidente do Bayern e ficou até 1951. Ainda agora, torcedores do Bayern homenagearam Fritz Landauer, que teve a coragem de resistir à ditadura.

Museu de Auschwitz-Birkenau, na Polônia

FONTE: C. Brickmann