BILLIONS FOR CAMPAIGNS

Diz a lenda, que certa vez um lavrador judeu foi pedir conselho a um rabino porque sua casa era minúscula, não havia espaço pra nada, e a sogra, que ficara viúva, tinha ido morar com eles. Que fazer, perguntou? O rabino disse: leve um bode pra dentro de casa. O lavrador obedeceu e, dias depois, voltou ao rabino: tudo tinha piorado. O bode ocupava boa parte do espaço, cheirava mal, fazia sujeira, estava insuportável. O rabino recomendou: tire o bode de casa. Alguns dias depois, o lavrador encontrou-se com o rabino e agradeceu o conselho. “Tirei o bode de casa. Agora temos espaço e higiene para todos!”

E porque esse introito? Porque os R$ 3,8 bilhões de dinheiro público que pagariam a campanha eleitoral foram o bode que os parlamentares tiveram que expulsar da casa. A intenção era que o eleitor ficasse feliz com a gentileza deles, e acabaram desistindo dos R$ 3,8 bilhões que geraram tanta reação. Aceitaram os R$ 2 bilhões propostos pelo Governo no Orçamento da União. Parece piada, mas não é: R$ 2 bilhões são bem mais que R$ 1,8 bilhão da campanha de 2018 que já era dinheiro demais para a campanha presidencial e estadual.

Aumentar os gastos para as eleições municipais seria, sem sombra de dúvidas, tungar o eleitor, que no final das contas é quem paga sempre, dando nosso dinheiro aos caciques dos partidos, estimulando a criação de novas legendas apenas para dar vida boa a quem não gosta de trabalhar. Que cada partido busque suas doações e sejam todos obrigados a declará-las, tanto doadores quanto receptores. Nos Estados Unidos não é assim? Então por que só jurar amor aos americanos e por aqui rejeitar seus métodos de financiar campanhas?

ROBIN WOOD ÀS AVESSAS

Até que o ex-governador fluminense Sérgio Cabral resistiu muito tempo a ponto de o Ministério Público rejeitar sua proposta de delação premiada, por achar que ele nada poderia trazer de novo às investigações. Mas Cabral, que está condenado em tantos processos a centenas de anos, que se arrisca a nunca mais sair da prisão, resolveu agora insistir em sua delação premiada. Fez acordo com a Polícia

Federal, contra o parecer do Ministério Público. E a decisão sobre os eventuais benefícios que possa receber será dada pelo Supremo Tribunal Federal, onde a petição está nas mãos do ministro Édson Fachin.

Dizem que Cabral, em sua delação, atingirá não apenas os que já foram atingidos pela Lava Jato: o que se comenta é que entregará juízes, ministros, até diretores de meios de comunicação. E vai sobrar, como sempre, para Lula, para Pezão, seu vice e sucessor, e para outros governadores que teriam atuado em conjunto com ele. Há empreiteiros que receberiam um capítulo exclusivo na “deduragem”, e não são os mais conhecidos, mas o que eram mais amigos, que viajavam com ele, davam bons presentes ao então governador e sua família. Muy amigo esse Cabral!

Se Cabral promete denunciar quem ainda não foi denunciado, após tantos anos de Operação Lava Jato, e devolver centenas de milhões de reais ganhos ilicitamente, por que o Ministério Público se oporia ao acordo de delação? O procurador-geral Augusto Aras diz que Cabral, enquanto negociava delação premiada com a Lava Jato, ocultava informações e protegia aliados. Em resumo, não estaria convencido da boa-fé do ex-governador. De acordo com o jornal O Globo, que noticiou a possibilidade de acordo de delação com a PF, desta vez ele promete apontar o dedo até para ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Sergio Cabral faz exame de corpo delito no IML de Curitiba na manhã desta sexta-feira (19)

Há quem diga que Cabral estaria fazendo as vontades do ex-juiz Sérgio Moro, por razões ainda pouco conhecidas. Há quem diga também que Fachin não homologará o pedido (para evitar dissabores que isso poderia acarretar). Quem viver verá! Mas que esse Cabral tem tanto pecado nas costas, sabe de tantas falcatruas, conhece os meandros da rapinagem, que uma delação poderia complicar o meio de campo de muita gente. Mas, condenado há tanto tempo como está, alguém acreditaria agora na sua honestidade?