DEVO, NÃO NEGO, MAS TAMBÉM NÃO PAGO

Guedes disse que houve debandada no Ministério da Fazenda

Há malfeitorias absurdas que muita gente comete, mas nega. E há também aqueles que a confessam com orgulho. O deputado estadual Douglas Garcia, do PTB paulista, condenado a indenizar uma pessoa que incluiu no dossiê de militantes antifascistas – como se combater o fascismo fosse crime – excedeu-se: disse que o dossiê de 56 páginas, com dados pessoais, incluindo fotografias de aproximadamente mil pessoas foi entregue à Embaixada dos Estados Unidos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro.

Não que os Estados Unidos, a China, ou a Rússia, todos exímios na espionagem, precisassem do auxílio do rapaz que disse ter sido fritador de hambúrguer numa lanchonete que não vendia hambúrgueres lá nos States… Mas pergunto: está dentro da lei entregar dossiês sobre cidadãos brasileiros a uma potência estrangeira? Os EUA são aliados do Brasil, Bolsonaro se considera meio que um genérico do presidente Trump, mas cada país tem interesses próprios – por exemplo, Trump ameaça taxar produtos brasileiros a menos que concordemos em importar etanol americano sem taxas. O Brasil, grande produtor de álcool, precisa comprar etanol americano tanto quanto precisa de açúcar de beterraba europeu ou de importar jabuticabas. Mas Trump quer votos de agricultores americanos e o Brasil é pressionado a pagar por eles. Garcia diz que agiu em conjunto com o filho 03. Já Eduardo Bolsonaro não disse nada. Seu pai, Jair Bolsonaro, ficou quieto. “Brasil acima de tudo”?

No entanto, no serpentário do Congresso tem muito mais coisa. Por lá o superministro Paulo Guedes, o (in) Posto Ipiranga do presidente Bolsonaro é conhecido como “semana que vem”. Das três reformas que considerava essenciais para que o país se recupere e
volte a crescer, uma foi aprovada – mas não sua versão, que ele não conseguiu emplacar, e sim a do Congresso, puxada por Rodrigo Maia. A tributária levou um ano e meio, foi enviada ao Congresso e até agora nenhum especialista de fora do Governo considerou-a a altura da reforma que já está lá em análise, coordenada pelo economista Bernard Appy e apresentada pelo deputado Baleia Rossi, do MDB/SP. A administrativa levou um ano para ficar pronta e o presidente Bolsonaro botou-a na gaveta e parece teria jogado a chave fora. Mas, por fim, tomou uma decisão: só vai enviá-la em 2021, talvez em fevereiro durante o Carnaval. A estratégia é esperar a eleição para a Presidência da Câmara e do Senado. Mas, por que esperar a eleição? Ora, meu amigo, não faça pergunta difícil.

A VACINA RUSSA NO BRASIL

Vladimir Putin garante que a vacina funciona

Tão logo o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o registro da primeira vacina do mundo contra a Covid-19, soube-se que o governador do Paraná, Ratinho Júnior, irá se reunir com o embaixador russo Sergey Akopov para negociar um possível acordo de cooperação técnica para a produção do imunizante. O estado havia procurado as autoridades russas em julho demonstrando interesse em participar do processo de desenvolvimento. Devido à velocidade doanúncio do antídoto russo, a OMS pediu cautela, mas acrescentou que está em contato com o país para analisar o progresso da vacina. A Anvisa anunciou ser contra devido a falta de mais testes sobre a vacina russa. Vamos aguardar para maiores comentários, mesmo porque não somos experts no assunto.

O MISTÉRIO DA MODERNA

Enquanto se discute sobre a vacina russa, a possível vacina da americana Moderna contra a Covid-19 ainda está em fase de testes,mas os executivos da farmacêutica já estão 1,35 bilhão de reais mais ricos. Isso porque, além de possuírem ações, eles venderam papéis da
empresa neste ano na bolsa, o que fez o mercado financeiro desconfiar do movimento e questionar: o que esses executivos saberiam que os fariam vender as ações da companhia no meio da pandemia e antes de a vacina funcionar? Há desconfiança também em relação à patente. A tecnologia usada pela Moderna para fazer o imunizante é nova e muitos suspeitam que uma disputa com uma empresa canadense que utiliza uma técnica parecida possa ocorrer no futuro, o que prejudicaria as ações da farmacêutica. A verdade é que tem gente de todo lado tentando tirar proveito com a pandemia…

A PRAGA DA DESINFORMAÇÃO

Que elas existem isso lá é verdade

Um estudo publicado na Revista Americana de Medicina e Higiene Tropical mostrou que o Brasil é o quinto país do mundo de onde mais vêm notícias falsas sobre a pandemia da Covid-19. Os pesquisadores analisaram 2.311 casos de desinformação que circularam entre 31 de dezembro e 5 de abril em duas redes sociais, sites de veículos de imprensa e de agências de checagem de fatos, e a maioria, 89%, entrou na classificação de rumores, isto é, que não podem ser definidas como “verdadeiras, fabricadas ou totalmente falsas”, caso da afirmação de que a cloroquina serve como tratamento para a Covid. Os 11% de desinformação ficaram divididos entre teorias da conspiração e estigma. Somente no Brasil, cerca de 100 desinformações do tipo foram fabricadas, segundo a pesquisa. No lo
creo en brujas, pero las hay, hay…

CIDADE SEM MÁSCARAS

Berço do novo coronavírus, a cidade de Wuhan, na China, primeira a entrar em quarentena, vê, seis meses depois, seus habitantes viverem quase normalmente, sem precisar usar máscaras ou proteções faciais. Wuhan foi a primeira região a adotar um fechamento completo, suspenso em 8 de abril. Agora, a atmosfera da cidade é outra, com casas noturnas e barracas de comida lotadas. Enquanto isso, em países da Europa, como a Espanha, o risco segue e as autoridades se preocupam com o constante aumento de casos. Na média diária das últimas duas semanas foram registrados quase oito novos infectados para cada 100.000 habitantes. Nenhum outro país na Europa Ocidental registrou um índice tão alto.

DE VOLTA PARA O FUTURO

As baixas dos secretários Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) do Ministério da Economia na terça-feira (11) foram uma decepção entre apoiadores de Bolsonaro. Winston Ling, o empresário bolsonarista que apresentou Paulo Guedes ao presidente, diz que o Brasil está de volta ao abismo. Ele considera que a partir da perda desses “dois gigantes”, o Brasil está de volta ao abismo – ou retornando ao futuro. Ling é um defensor radical do teto de gastos e afirma que é preciso “segurar os gastadores” e que a pandemia é “uma farsa”, que vai levar o Estado a “engolir tudo”. A informação é da coluna Painel da Folha de S.Paulo. “De volta para o futuro” foi um dos filmes de ficção da série de filmes da década de 1980. Estaríamos nós retornando àquela época?

Cena do filme De Volta para o Futuro