NOS TEMPOS DA BRILHANTINA

Dizem que o presidente Bolsonaro foi muito ingrato ao deixar pelo caminho seu antigo aliado, o ex-senador Magno Malta. Sem problema: Malta é pastor, é bonzinho, compreende. Mas Bolsonaro também fez pouco de seu braço direito na campanha, Gustavo Bebbiano, e tão logo assumiu, deu um chega pra lá nele. Mas Bebbiano, que também era muito amigo, se calou. O Capo então tentou demolir Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, que lhe cedeu o partido para se candidatar. Isso também sem problemas: Bivar é compreensivo, e logo ali adiante irão se acertar. O presidente também disparou contra Joice Hasselmann. Afastou-a do cargo e permitiu que a atacassem por sua aparência física. Aí sim, criou um problema sério. Joice não é boazinha, não. É agressiva, raciocina rápido, e o que é pior, devolve em dobro os desaforos que recebe. E já mostrou que tem nas mãos uma denúncia que pode causar problemas ao presidente – até causar seu impeachment.

Joice postou mensagem em que acusa os filhos de Bolsonaro de montar uma máquina de produzir perfis falsos nas redes sociais. E disse à GloboNews e no Roda Viva da TV Cultura que parte do esquema operou dentro do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto. Os filhos 01, 02 e 03 de Bolsonaro, segundo ela, são responsáveis por no mínimo 20 geradores de notícias falsas no Instagran, que alimentariam uma rede de 1.500 páginas e perfis falsos – o que Joice chama de “milícia digital” (para quem a conhece, o nome “milícia” não foi escolhido ao acaso). Disse que levará a informação ao Ministério Público. E, não esqueçamos, está para iniciar a Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara e do Senado para investigar fake news e assédio virtual. Será a hora H. E sejam quais forem os defeitos de Joice, a campanha de insultos virtuais desencadeada contra ela, por estar acima do peso, é inaceitável. Ser gordo não é crime. Na Segunda Guerra Mundial, que Eduardo Bolsonaro sempre cita, Churchill era gordo, Hitler era magro. Quem estava do lado certo era o gordo.

Mas, entrando no caso, usar o gabinete presidencial para divulgar falsas notícias contra adversários pode ser visto, no mínimo, como abuso de poder. Joice, lembremos, até esses dias era líder do Governo no Congresso. Deve saber de mais coisas. Goste-se ou não dela, é uma fera ferida que ruge alto. Imagine seu depoimento na CPMI das Fake News. Caso pequeno? Maior ou menor que o das pedaladas fiscais? Ou do Fiat Elba que depôs Collor? Aguardemos…

EM TEMPO DE EMOJIS

O tempo volta, torcida brasileira. Passados uns dois mil anos, mais ou menos, o debate político no país volta a utilizar hieróglifos, como na época dos antigos egípcios. O que mudou foi o nome dos hieróglifos, agora são “emojis” – e foi por emojis que Joice Hasselmann e Carlos Bolsonaro, o filho 02 do presidente, duelaram nas redes sociais. Os emojis podem ser genéricos (como o coraçãozinho, para demonstrar afeto), e podem ser bem específicos. No caso, de ambos os lados, foram usados com significado específico. Aliás, considerando-se o nível do debate político no país, para que usar palavras? A propósito, Joice tem mantido dois discursos distintos: no primeiro, em palavras, diz que os filhos de Bolsonaro são meninos mimados e deveriam se abster de atrapalhar o governo do pai. No segundo, com os emojis, mostra que ainda há muitas escadas para descer até se dar por satisfeita.

A propósito, sabemos por que Bolsonaro e Bivar tanto lutam pelo PSL, ou alguém conhece outro motivo ideológico ou patriótico? Na hora em que sai do forno a nova Previdência, em que a reforma tributária provoca discussões, em que o desemprego não cede, em que o país não cresce, é preciso perder tempo discutindo se um está queimado e o outro é vagabundo? Que é que o peso de Joice tem a ver com a saída de dólares, exatamente quando se imaginava um dilúvio de investimentos estrangeiros? Por que Bolsonaro se preocupa com isso neste momento em que realiza visitas a países comercialmente importantes para o Brasil? Está mais que na hora de parar com picuinhas e começar a trabalhar pelo país efetivamente. E agora, pra completar, ainda vem esse óleo do mar pra complicar ainda mais o meio de campo. Bolsonaro diz que é petróleo venezuelano. Mas há quem diga que esse óleo está vertendo do fundo do mar que está sendo perfurado por empresas sem experiência no assunto. Vamos aguardar pra ver onde isso tudo vai dar!