Pois houve uma época, caros leitores, que quando se falava em Corona, falava-se apenas na marca de uma ducha, um chuveiro, cujo slogan era: “um banho de alegria num mundo de água quente”. Lembram? O nome completo, não se sabe por que, era SS Corona, talvez se referindo a alguma coisa.
Bons tempos aqueles, mas os que botaram o SS nem mesmo os clientes associaram isso à SS, a temida organização nazista. Eram mesmo os bons tempos: nazismo era coisa velha, superada, e nenhum ministro iria citá-lo. Bandido era bandido, e se juntavam em bando para cometer seus crimes.
Como diria o famoso bandido Lúcio Flávio, Polícia era Polícia, bandido era bandido. Ele era assaltante de bancos e não se misturava com policiais. Aquele híbrido conhecido como “miliciano”, com origem na Polícia e na ação como bandido, era inimaginável. E, se milicianos houvesse, gente decente jamais se misturaria com eles. No máximo saberia que eles existiam. Amigo, confidente, protetor ou protegido? Não: quem se colocasse ao lado deles bandido seria. E a desculpa dele ser “apenas meu conhecido”, seria só uma desculpa.

Remédios esquisitos, caros e inúteis, esses sempre houve. Óleo de cobra, por exemplo, ou óleo de cobra elétrica. Servia exclusivamente como fonte de renda do vendedor (que também parecia ser o produtor, misturando óleo de amendoim com algum corante). Fazia mal? Acho que não. Mas nem bem. Era chamado de “panaceia” ou “placebo” – remédio para todos os males, mas que nada curava. Quem gosta de filmes antigos, especialmente aqueles chamados de bang-bang, de mocinho e bandido, lembra que nesses faroestes americanos o vendedor de panaceia aparecia muito. Aqui o bandido aparece mais. Hoje, óleo de peroba teria ampla utilização lá pelas bandas do planalto central. Aliás, caro leitor, que tal um happy hour com cloroquina on the rocks? Ou prefere uma “caipirinha” à miliciana?
AQUELA QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO
Que vexame, Regina Duarte! Após sua ótima atuação em Roque Santeiro, como Viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido, deixou que um novato com a cara impassível de um Buster Keaton sem graça a superasse! Teich tomou seu lugar, também foi sem nunca ter sido, assumiu sem ter assumido, um perfeito Viúvo Porcino! Médico, bem conceituado, foi tocado do cargo por um capitão que só conhece remédios por comprá-los nas farmácias – e errados, ou não teria ficado desse jeito. Regina, não: desandou a falar igualzinho ao capitão e seus filhos. Após esse episódio, está pronta para a política: já pode até ser porta-voz de Dilma.

Teich desafiou a sabedoria popular: “Se alguém engana alguém uma vez, a culpa é dele. Se engana outra vez, a culpa é do outro”. Teich viu Mandetta ser vítima de seu sucesso como administrador – e, exatamente por esse sucesso, foi chutado escorraçado, enxovalhado pelo capitão-mor. Achou que com ele seria diferente. Mas não parou pra pensar no motivo pelo qual seria diferente. Por acaso o Capitão-mor, digo, Cloroquina, como médico que é aceitaria outro medicamento que não fosse a tal cloroquina? E concordaria com o isolamento social, quando tudo que não quer é ficar isolado, e saracoteia pelas ruas no meio de gente aglomerada, trocando suores e perdigotos? Tossindo e espirrando. Por acaso o Capitão Morte passaria a se importar com os mortos da pandemia, se nem com a segurança de sua filha, uma criança, se importou, levando-a para o meio daqueles grupos de fanáticos que gritavam Bolsonaro tem razão?
O FUTURO DO PASSADO
Dizem que no Brasil nem o passado é previsível. Mas Bolsonaro e seus milicianos digitais são previsíveis: as milícias (e seus robôs) vão explicar de ora em diante que Teich é comunista desde antes de Lênin e se infiltrou no governo Bolsonaro apenas para atrapalhar seu até então impecável funcionamento. Bem feito: mas por que Teich teria aceitado o desafio impossível de ser ministro de Bolsonaro?

Agora, talvez sentido o peso do momento, tem muita gente preocupada com a possibilidade de efetivação do general Pazuello no Ministério da Saúde. Não deveriam se preocupar. O general, dizem, é bom organizador. Não deve entender nada de Medicina, o que não seria problema se pudesse ouvir o pessoal do Ministério; mas se fizer isso será o próximo a rodar. E qual a diferença? Mandetta e Teich têm boa formação médica, tanto assim que rejeitaram os palpites do leigo cujo sonho seria vestir a farda. Mas e daí? Pazuello deve ter uma formação apurada em assuntos militares, mas nada a ver com Medicina, Saúde Pública, contenção de epidemias. Não vai fazer a menor diferença: ou manda o país se abrir à epidemia – isso se os governadores e o Supremo deixarem – e ordena servir cloroquina na merenda escolar, ou cai tão rápido como caíram seus antecessores.
REMEMBER

Apenas para ilustrar isso tudo. O general norte-americano George Marshall foi combatente até 1945. Em 1947, o presidente Truman o nomeou secretário de Estado. Marshall criou então o Plano Marshall (famoso, qualquer dia desses falarei sobre), que permitiu a reconstrução de 16 países da Europa Ocidental que, após a guerra, estavam em ruínas, inclusive a própria Alemanha. Foi tão bom que, no Brasil, quando os generais propuseram a Bolsonaro mais uma versão do PAC de Dilma, deram-lhe o nome de Plano Marshall. Só há um detalhe: Marshall foi um guerreiro que deu certo como secretário de Estado. Mas foram pouquíssimos. Tem alguma chance disso se repetir por aqui?

Radialista e Jornalista Profissional desde 1979 – Registro no MTF/PR Nº 0888 – Foi diretor de imprensa em prefeituras no Paraná e Santa Catarina. Atualmente aborda assuntos com foco no contexto do cenário político brasileiro e mundial. Como colunista de O Povo, traz análises e notícias exclusivas dos bastidores de temas diversos e relevantes para os catarinenses.
E-mail: pimentel.ddc@gmail.com