A GIRIPOCA CONTINUA PIANDO

Portal RCC
Em jantar na embaixada brasileira em Washington, Bannon pode ser visto ao lado esquerdo do presidente Jair Bolsonaro Foto: Alan Santos

Não sei se você lembra, mas nos tempos da ditadura que dizem que não houve, contava-se uma piada que até hoje não se sabe se era verdadeira ou não. Quem denunciasse um comunista ganharia um Fusca.

Quem denunciasse dois comunistas ganharia um Fusca e um apartamento; e quem denunciasse três comunistas iria pra cana, porque conhecia comunistas demais. E hoje, como a família Bolsonaro conhece muita gente que tem problemas, digamos, éticos, qual poderia ser a piada? É o Queiroz, são aqueles milicianos que têm foto com alguém da família, é aquela tropa de gente empregada em seus
gabinetes parlamentares e que mora horas e horas de distância, tendo ainda de ocupar parte de seu tempo em outros trabalhos remunerados! E esse tipo de amigos e conhecidos agora se internacionalizou: Steve Bannon, guru de Olavo de Carvalho, talvez o maior ideólogo do bolsonarismo, foi preso nos Estados Unidos. Problema político? Não: a acusação é mesmo a de ter enfiado a mão na cumbuca.

Bannon sentou-se ao lado de Bolsonaro no jantar da Embaixada brasileira em Washington – do outro lado estava Olavo de Carvalho. Ali estavam também sete ministros, inclusive o (Im) Posto Ipiranga Paulo Guedes, mas o astro mor era Bannon. Já ídolo e amigo de Eduardo Bolsonaro, Bannon defendeu publicamente sua nomeação para embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Eduardo o chamou de ícone da luta contra o marxismo cultural. Bannon o escolheu como seu representante no Brasil, chefiando a seção brasileira do Movimento, grupo empenhado em lutar internacionalmente contra o comunismo. Apenas para lembrar: Bannon foi guru de Trump, que o demitiu: nem Trump o aguentou.

Bannon foi um dos criadores da ideia de separar Estados Unidos e México por um grande muro. Para ajudar a pagá-lo, promoveu grande campanha de doações. Foi preso pela acusação de desviar boa parte das doações. Quanto? Não se sabe: mas, pelo tamanho da fiança que tem de pagar para defender-se em liberdade, dá para imaginar. São cinco milhões de dólares. E ele topou, prova de que era muita grana.

O PORTO IPIRANGA

Lembra-se do compromisso de Paulo Guedes de privatizar rapidamente quatro grandes empresas? Pois é: para privatizar a Eletrobrás, o Governo reserva, no Orçamento de 2021, R$ 4 bilhões para criar uma nova estatal, que ficaria com parte da operação da empresa a ser vendida. Algo (digamos) como jogar fora os documentos velhos para poupar espaço, mas não sem antes copiá-los para arquivar e guardar. Quais as operações que não seriam vendidas com a Eletrobrás – isso se a Eletrobrás for mesmo vendida? As três usinas
nucleares de Angra dos Reis – a terceira não foi concluída e está parada desde 2015 – e a parte brasileira em Itaipu. Apenas para lembrar: Usinas nucleares da Europa e EUA são privadas. Mas Itaipu não tem jeito: não sendo estatal, como nomear gente com salário mensal que chegam aos R$ 30 mil mensais para ir a seis reuniões por ano?

A PROBABILIDADE E O RISCO

O Governo queria dar R$ 200,00 mensais para quem tivesse perdido sua fonte de renda na pandemia. O Congresso, para criar-lhe dificuldades, votou R$ 600,00. O objetivo era derrotá-lo, mas quem ganhou foi Bolsonaro, cuja popularidade voltou a crescer. A promessa do presidente, de manter a ajuda até o fim do ano, tem tudo para ser cumprida, e o dinheiro vai surgir. Só há um risco: Paulo Guedes prometeu enviar ao Congresso, nesta terça, o projeto da Renda Brasil, uma Bolsa Família ampliada e melhorada. Promessa de Guedes para depois de amanhã sabe-se lá quando chega. E, claro, se é que vai chegar.

Mas tem uma boa notória. No mês passado (julho) foram criados no Brasil 131 mil empregos formais, daqueles de carteira assinada e tudo. Sim, é pouco. Mas não houve estagnação nem queda. E se interrompe uma terrível série de quatro meses em que só houve redução do número de empregos formais. Pode ser – vamos torcer – para que o início da retomada do nível de emprego indique alguma recuperação econômica.

Já o ministro da Justiça, André Mendonça, pediu que seja aberto processo pela Lei de Segurança Nacional contra o jornalista Hélio Schwartsman, da Folha de S.Paulo, por ter dito, quando o presidente Bolsonaro foi contaminado pelo coronavírus, que torcia para que ele morresse. Detalhe: o jornalista não pediu a ninguém que o matasse, nem tomou qualquer medida para que isso ocorresse. Apenas manifestou sua opinião de que, morrendo o presidente, o Brasil ficaria melhor. Mendonça pediu o processo com base no artigo 26 da Lei de Segurança Nacional, que prevê pena de reclusão a quem caluniar ou difamar o presidente da República, do Senado, da Câmara ou do Supremo, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação. E em que momento Schwartsman caluniou ou difamou quem quer que seja? Não concordo com Schwartsman, acho impiedoso desejar a morte de alguém, mas ele tem direito a expressar sua opinião. E acho que Mendonça não deveria ser ministro, acho também que não deveria ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal. Questão de opinião. E por acaso opinião é crime?