Depois da pandemia que grassa no planeta, nossas vidas estarão para sempre marcadas nos anos que se seguem a 2020. Nunca mais seremos os mesmos. Não olharemos a vida com os mesmos olhos. Não nos comoveremos pelas mesmas coisas. Algo de inesperado nos jogou de volta aos bancos escolares da humanidade.

Talvez não na idade da pedra lascada, mas fomos flagrados com nota muito abaixo da média. Estávamos sendo até brilhantes nas exatas, mas foi nas humanas que patinamos. A Providência Divina é sábia. Com isso ela nos dá uma chance, para uma recuperação terapêutica. O momento pelo qual passamos tirou-nos preciosidades pelas quais nunca agradecemos. Tirou-nos os abraços. Talvez porque já estivesse virando rotina apertar mãos sem olhar nos olhos de quem as estendesse. Tirou-nos o convívio. Talvez porque já estivesse virando rotina não retribuirmos aos cumprimentos. Tirou-nos o consumo. Talvez porque já estivesse virando rotina substituirmos as ausências por presentes fúteis. Tirou-nos a prepotência vã do conhecimento. Talvez porque já estivesse virando rotina acharmos que a inteligência artificial seria mesmo inteligência. Definitivamente, nossas vidas jamais serão as mesmas. Sairemos melhores. Mas não sem dor. O Cristo Ressurreto, cuja memória todos nós reverenciamos no Domingo de Páscoa, foi o Cristo sofredor. Portanto não nos cabe qualquer tipo de reclamação. Nós somos os únicos culpados por todos os acontecimentos verificados sobre a face da terra. É hora de reflexão!

O Pastor da humanidade

ACUSAÇÃO INGLÓRIA

O presidente Jair Bolsonaro já está livre do ministro Luiz Henrique Mandetta. Agora ele quer demitir outras pessoas: Rodrigo Maia, presidente da Câmara; João Doria, governador de São Paulo, e alguns ministros do Supremo. Bem, vamos ver até quando a institucionalidade suporta isso. O presidente diz dispor de dados de Inteligência segundo os quais essa articulação busca derrubá-lo. Dados de Inteligência? Foram repassados pela ABIN, que é subordinada ao general Augusto Heleno, chefe do GSI? A ser assim, o ministro teria de ser convocado pelo Senado para revelar o golpe em andamento, ressalta o comentarista Reinaldo Azevedo. Ele diz que seria uma convocação virtual, claro! Então ficamos assim: ainda ontem à noite, depois de nomear o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, o presidente foi para a porta do Palácio da Alvorada cometer crimes comuns e de irresponsabilidade. Convocou os brasileiros às ruas, chamou de covardes os que ficam em isolamento social e incitou a população contra os governadores. E tudo isso no dia em que demitiu o ministro da Saúde em meio à crise provocada pela pandemia. E não o demitiu por seus eventuais defeitos, mas em razão de suas qualidades. E Bolsonaro acha que outros querem derrubá-lo. Notem bem: ele acusa de conspiração um governador, ministros do Supremo e o presidente da Câmara; não dispõe, por óbvio, de prova nenhuma, atribui tal informação a uma investigação conduzida por um órgão de Estado. E pronto! Que fique tudo por isso mesmo. Como ele não pode demitir nenhum dos supostos envolvidos, sabemos qual é a palavra de ordem a mobilizar a sua súcia nas redes sociais. A coisa tem aquele chulé moral indisfarçável do tal “Gabinete do Ódio”, comandado por Carlos Bolsonaro.

E AUGUSTO ARAS?

O procurador-geral da República vai, mais uma vez, se calar? Afinal, não é tão corriqueiro que um presidente da República faça acusações dessa natureza. Pensem nos desdobramentos: se a cúpula do Congresso e do Judiciário está unida para derrubá-lo, o que ele deveria fazer? Dar um golpe preventivo? Outro fato. A GUERRA DO ICMS! Em entrevista à CNN Brasil, o presidente soltou os cachorros contra Rodrigo Maia por causa da correta e prudente proposta de reposição do ICMS aprovada pela Câmara. Nada menos de 25 dos 27 governadores enviaram uma carta ao Senado endossando o texto. E assim vai caminhando a humanidade, ao sabor das ondas produzidas por um governo manco que não sabe o que faz, oque fez nem o que fará…

Na posse de Teich, Bolsonaro cobra Moro sobre a reabertura das fronteiras

DEMISSÃO DE MANDETTA

A demissão do ministro da Saúde do Brasil teve forte repercussão na Europa na sexta-feira (17). Rádios, TVs e jornais noticiavam a decisão do presidente brasileiro de substituir o “popular” Luiz Henrique Mandetta em plena crise do coronavírus. Em manchete, o jornal Le Monde (Paris) afirma que a demissão de Luiz Henrique Mandetta aconteceu “em plena pandemia” e que o ministro era “o símbolo da luta contra a Covid-19″ no Brasil. O correspondente do diário no Brasil, Bruno Meyerfeld, escreveu que o afastamento de um ministro da Saúde em plena crise sanitária mundial é “bombástico”, mas não surpreendeu ninguém em Brasília. Desde o início da epidemia, “uma verdadeira guerra fria opunha o presidente brasileiro de extrema direita, um ‘coronacético’ assumido, ao seu ex-ministro da Saúde, um ‘corona-alarmista’ convencido. Já o Libération afirmou que no Brasil de Bolsonaro é assim que as coisas acontecem. O jornal lembrou que a demissão do “popular” Mandetta desagradou a população, que reagiu com panelaços ao anúncio do presidente, em várias cidades do país.

O EMBATE TEVE FIM

Foram mais de trinta dias de embate público entre o presidente da República e o ministro da Saúde – uma sucessão de pronunciamentos belicosos, coletivas copiosas, provocações e sapatadas de lado a lado. A questão que importa agora: ao demitir Mandetta e escolher Nelson Teich, Bolsonaro teria se livrado de um problema para contratar outro igual? O substituto de Mandetta na pasta da Saúde, Nelson Teich, já declarou publicamente ser contra o isolamento vertical. O oncologista carioca também se diz a favor do monitoramento da população por meio dos celulares como forma de ajudar no combate à pandemia. São duas posições incompatíveis com as do presidente da República (pode dar xabú). Até as estátuas da Esplanada dos Ministérios sabem que Bolsonaro é contra a permanência da população em casa e o fechamento das lojas, escolas e indústrias. Mais que isso: Bolsonaro também é contra o uso de dados de geolocalização do celular para traçar políticas de enfrentamento do coronavírus. O plano de usar dados de celulares para monitorar o deslocamento das pessoas durante a pandemia já estava pronto e amarrado com quatro operadoras de telefonia celular, mas foi abortado na última hora por ordem do ex-capitão, conforme anunciou um constrangido Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia.

Isso quer dizer que o novo ministro da Saúde irá repetir o velho ministro da Saúde e contrariar Bolsonaro nas questões que são fundamentais para ele? Não! Antes de decidir por Nelson Teich, Bolsonaro recebeu tudo o que o médico escreveu sobre a pandemia. Recebeu também sinalizações de que Teich aceitaria “conversar”. E depois da conversa, presidente e médico chegaram a um acordo.

O novo ministro vai implementar “paulatinamente” as medidas defendidas por Bolsonaro – tanto as que dizem respeito às recomendações de afrouxamento do isolamento – que agora não poderão passar de “recomendações”, diante da decisão do STF, de reconhecer a autoridade dos governadores nessa questão – quanto as referentes à ampliação do uso da cloroquina. Bolsonaro, por seu lado, irá ceder em aspectos do monitoramento via dados de geolocalização por celular? Nada disso será feito de forma brusca. Não vai haver cavalo de pau. “Para não assustar”, como diz um assessor militar palaciano. As recomendações para suspensão do isolamento vão começar pelo setor produtivo, diz o assessor. Escolas, bares e restaurantes podem esperar. A cloroquina não passará a ser receitada indiscriminadamente a partir de agora, mas o novo ministro “vai possibilitar que o remédio seja testado, com acompanhamento médico”. Vai funcionar? Bolsonaro e assessores acham que sim. Pelo menos até que comece uma nova troca de coices e sapatadas.

APOSTA ARRISCADA DE BOLSONARO

Embora a ciência e as estatísticas mostrem que ainda não é o momento de afrouxar o isolamento social, o governo deve flexibilizar a quarentena com a chegada do oncologista Nelson Teich ao Ministério da Saúde. A aposta é arriscada. A intenção de Jair Bolsonaro e seus auxiliares é fazer com que municípios e regiões industriais voltem a funcionar, bem como cidades brasileiras que ainda não foram atingidas pelo novo coronavírus. Como não chegamos ao pico da doença, o presidente arrisca ao trocar a estratégia no meio da pandemia e acreditar que o vírus não sairá do controle. Na posse do novo ministro, Bolsonaro citou também a abertura das fronteiras, especialmente com o Paraguai. Se sua aposta estiver errada, o preço a pagar será alto.

Sai Luiz H. Mandetta entra Nelson Teich na Saúde

SAI MANDETTA, ENTRA TEICH

Após dias de embate, Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta do comando do Ministério da Saúde. Em seu lugar entra o médico e empresário Nelson Teich. O oncologista, que fez carreira no setor privado, por pouco não assumiu a pasta já no início do governo após ser consultor informal para a área de saúde na equipe do presidente durante a campanha de 2018. Ao contrário de Bolsonaro, Teich defendeu recentemente o isolamento horizontal em um artigo. Mesmo assim, afirmou após a posse estar “totalmente alinhado” ao chefe na política de combate à Covid-19. O novo ministro, porém, declarou que não vai fazer nenhuma mudança brusca na questão do distanciamento social.

A CORRIDA POR TESTES

A caminho do pico da epidemia, o Brasil ainda apresenta números modestos na distribuição dos testes de coronavírus. Pensando nisso, a Fiocruz, maior produtora nacional de exames para a detecção da Covid-19 e responsável por abastecer toda a rede pública de saúde, trabalha para subir a produção semanal de 20.000 para 200.000 kits. A ideia é que pelo menos 10% da população brasileira seja testada até o mês de julho, algo que ajudaria a tomar medidas mais eficazes para controlar a doença. Citemos o esforço dos cientistas que correm contra o tempo para que o Brasil possa testar em massa e assim conseguir o passaporte mais eficiente para a volta à normalidade.

BANCO CENTRAL NA LIDERANÇA

A exemplo do que acontece em outros países, o Banco Central recebeu do Congresso e do governo o aval para fomentar a economia durante a crise do coronavírus com a aprovação de uma PEC no Senado, a do chamado ‘Orçamento de Guerra’. O projeto confere poderes quase ilimitados à instituição. O BC, que já financia o caixa do governo ao comprar títulos de instituições públicas, agora está autorizado a fazer isso também com as empresas privadas para afastar o risco de demissões. A estratégia é, ao mesmo tempo, arrojada e perigosa. O medo é que o governo perca a mão e arruíne as contas públicas. A necessidade de injetar recursos é inquestionável, mas a questão é como e até que ponto isso deverá ser feito.

AS LIÇÕES DOS RECUPERADOS

Com cerca de 50% dos pacientes infectados pela Covid-19 já curados, o Brasil tem uma porcentagem de recuperados maior do que a registrada em boa parte do mundo. Apesar de provavelmente cair em breve, essa taxa também pode servir como uma estrada para desenhar com mais precisão a evolução de uma doença ainda desconhecida. Estudos com pessoas que venceram o vírus permitiram a descoberta, há menos de um mês, dos mecanismos do sistema imunológico no combate à infecção. Em outra frente, está o desenvolvimento de um tratamento na transfusão do plasma do sangue de pessoas curadas. Além de um conforto em meio à tragédia, a estatística dos pacientes recuperados é também uma esperança contra a doença. No entanto, se o ápice da pandemia, como disse Mandetta, ocorrer em maio e junho, aí o governo teria dado um tiro n’água.