SERIAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?

Bolsonaro e Mandetta

O presidente Bolsonaro repete a cada instante que ele é o presidente e que cabe aos ministros alinharem-se a ele, não ele aos ministros.

O presidente não concorda com a quarentena, não concorda com o isolamento social, não concorda com a demora do seu Governo em entronizar a hidroxicloroquina e a cloroquina como as grandes armas na luta contra o coronavírus, já disse que ele e o ministro Mandetta não se bicam (especialmente depois da entrevista do ministro no Fantástico de domingo) e, referindo-se à repetida frase de Mandetta, de que médico não abandona o paciente, lembrou que o paciente também pode trocar de médico.

Pois bem, o paciente não trocou de médico (ainda), Mandetta continua ministro, a política de combate à pandemia do Governo se alinha ao ministro, não ao presidente, a cloroquina e a hidroxicloroquina continuam na categoria de remédios em teste, a quarentena e o isolamento estão em vigor (apesar da insistência de parte do empresariado). O presidente se limita a fazer fusquinha ao ministro com quem não se bica, saindo para passear, se enturmar, às vezes chamado de mito, outras de miliciano e até ouvir panelaços ao vivo.

Os culpados de nossos problemas somos nós mesmos

OU OS DEUSES SERIAM APENAS COMPLEXOS?

O presidente não gosta de ver seu pessoal se relacionar com adversários (acha que é traição), mas Mandetta acaba de firmar convênios com Doria. Pois é, talvez aquela história tão difundida de que o chefe do Governo, de fato, seja o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, possa ter fundamento, não parece? O que se comentou fartamente é que Braga Netto é hoje um primeiro-ministro, restando a Bolsonaro o papel de “Rainho” da Inglaterra, que preside, mas não governa, tem os filhos ao lado e não tira o corona da cabeça.

FALANDO LÍNGUAS ESTRANHAS

Um fato está claro: depois de dezenas de anos de amizade, Bolsonaro e Mandetta já não falam a mesma língua. Num governo normal, Mandetta seria demitido, por não seguir a linha do presidente. Não é questão de estar certo ou errado: quem foi eleito e define o caminho a seguir é o presidente. O fato de Mandetta continuar no Governo, seguindo a sua linha, que o presidente diz que é absurda, é outra indicação de que Bolsonaro não é quem comanda.

RELEMBRANDO FATOS INUSITADOS

A CNN (A nova emissora de TV que está no Brasil) telefonou para o deputado Osmar Terra, ele atendeu, pediu licença para atender outro telefone, mas esqueceu de desligar o primeiro. A CNN ouviu e gravou toda a conversa de Osmar com Onyx Lorenzoni, o ministro da Cidadania de Bolsonaro. Na conversa – observam parlamentares que o conhecem bem – Terra foi mais polido do que o habitual. E Onyx se queixou de Bolsonaro, que depois de falar várias vezes em demitir Mandetta, não apenas não o demitiu, como não conseguiu sequer fazê-lo mudar sua linha de atuação. Onyx disse que, se fosse o presidente, não teria dúvidas em cortar a cabeça de Mandetta. Que é que Bolsonaro deve pensar da conversa? Ainda não sabemos, mas não vai demorar muito para que venha a público.

FOI SORTE OU PURO ACASO?

Digamos que a CNN teve a sorte danada de ligar para Osmar Terra bem na hora em que ele receberia a ligação de Onyx. Teve também a sorte de ele ter esquecido de desligar o celular. Mais sorte ainda, de ele ter conversado com Onyx no viva-voz (do contrário, teriam gravado só a parte de Terra). Já Terra teve a sorte de não dizer nada que o comprometesse e de ser bem mais polido que o habitual. Onyx não teve a mesma sorte de Terra e se queixou do presidente em conversa gravada. Ah, as coisas que acontecem por acaso! Há pouco tempo, numa reacomodação ministerial, Bolsonaro colocou Onyx no lugar de Terra. Mas ambos continuaram amigos, como fica claro no telefonema gravado. É verdade. Um deles é muito amigo. O outro, muuuuy amigo.

MAS E A CHINA COMO FICA?

A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil, responde por algo como 80% do superávit comercial brasileiro, tem feito investimentos aqui e, hoje, tem papel estratégico no fornecimento de material de saúde para a luta contra a pandemia. Vem o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, e faz dura crítica aos chineses. Como observou com clareza o vice-presidente, general Mourão, se as críticas partissem de outro deputado não haveria problema. “O problema é o sobrenome. Se o sobrenome dele fosse Eduardo Bananinha não era problema nenhum”. Pouco depois, um dos queridinhos do presidente, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi mais longe, falando mal dos chineses e ironizando sua maneira de falar. Por que o ministro da Educação foi se envolver numa questão de política externa, política econômica, política comercial, que não têm nada a ver com Educação? E não foi sequer advertido pelo presidente? A conclusão óbvia é que o filho do presidente e o queridinho do presidente seguiram a orientação do presidente. Apesar de tudo, o ministro da Saúde solicitou a compra de equipamento chinês, a ministra da Agricultura negocia com a China, governadores pedem auxílio a Pequim. É ou não é um caso pra se pensar?

DESAFINANDO O DISCURSO

Jair Bolsonaro segue não falando a mesma língua de Luiz Henrique Mandetta. Ele voltou a contrariar abertamente as recomendações do ministro da Saúde para que se evitem aglomerações e cumprimentou apoiadores no sábado (11), em visita a hospital de campanha em Goiás. No dia seguinte, disse em uma live com religiosos, que o coronavírus “parece que está começando a ir embora” – a declaração não tem respaldo na ciência nem nos números, que não param de subir no país. Diante do comportamento do chefe, Mandetta cobrou em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, considerada “inimiga number one” por Bolsonaro, uma “fala unificada” para que a população não se confunda. Claro que esperamos um entendimento rápido entre presidente e ministro para (cada um na sua área), fazer o melhor para a população brasileira, independentemente de política ou politicagem.

E NA EUROPA: SERÁ QUE O PIOR PASSOU?

Itália e França registraram no domingo os menores números de mortos por Covid-19 em semanas, consolidando uma tendência de baixa que já vem sendo percebida há vários dias. Os índices, porém, ainda são elevados: foram 431 óbitos entre os italianos e 310 entre os franceses em 24 horas. A Espanha, por sua vez, teve uma alta depois de três dias de redução e confirmou 619 vítimas. As autoridades do país reforçaram que não é hora de se “afrouxar a guarda”. Já no Reino Unido, que atingiu a triste marca de 10.000 mortes desde o início da pandemia, o premiê Boris Johnson recebeu alta e agradeceu ao serviço público de saúde por “salvar sua vida”. Esta semana será decisiva para saber se o pior já passou no continente europeu.

MAS E A ECONOMIA COMO FICA?

Em Balneário Camboriú e outras cidades do Estado, comércio fechado causa transtorno e prejuízo

Esta é uma pergunta que tem sido feita não apenas no Brasil, mas em todo o planeta. Por aqui a crise do coronavírus pode derrubar o PIB do Brasil para 5% negativo neste ano. Pelo menos é essa a previsão do Banco Mundial, que divulgou um relatório com projeções para a economia da América Latina em meio à pandemia. A instituição ainda estima uma retomada lenta em 2021, com crescimento de 1,5%. O cenário previsto para o Brasil só não é pior do que os de Equador (-6%), México (-6%) e Argentina (-5,2%). O Banco Mundial alerta, porém, que a retração pode ser ainda maior, já que a estimativa é um retrato do momento e os impactos da Covid-19 podem se agravar nos

próximos meses. O relatório recomenda a ampliação da cobertura dos programas sociais como forma de atenuar a crise.

No Brasil, especialmente nas cidades menores (em maior número), mas também nas maiores a angústia dos comerciantes de toda a natureza vem aumentando dia a dia ao verem seus negócios parados, e com poucas perspectivas de volta à normalidade nos próximos 30 dias. Isto é ruim para todos, uma vez que tanto o comércio quanto a indústria de modo geral, e outras áreas de serviços são os motores que levam a nação adiante. Estando parada toda essa gama de empresas, todos nós perdemos. Por isso rogamos aos céus que nos mandem um alento para que possamos voltar à realidade de antes da pandemia, para que tudo volte anormalidade para o bem estar de todos.

JORNAL O POVO – 31 ANOS TRABALHANDO PELA REGIÃO